Assombrações de hoje
O país se moderniza. Mas não se pode esquecer nossa cultura.
Nossas lendas. Nossos mitos. Nossas tradições.
Dona Eunice morava na roça, em Uvaia. O casarão da família caindo aos pedaços.
- Gosto assim. Reforma não faço. Respeito quem já morreu.
Em pleno século 21, a boa senhora ainda acreditava em assombração.
Mula-sem-cabeça. Lobisomem. Saci.
- Saci faz tempo que não aparece...
Noite sem Lua na fazenda Bom Descanso.
Da varanda, dona Eunice viu algumas luzinhas acesas.
Pegou a velha luneta de buscar escravo fugido.
- Umas fumacinhas... um monte de barrete vermelho...
A alegria tomou conta de dona Eunice.
- É a sacizada! Fazendo arte...
Mas a pequena multidão se aproximou. Não eram sacis. Nem usavam barrete.
Era gente do MST. Usando os tradicionais bonés vermelhos do movimento.
Dona Eunice quis responder a bala. O infarto chegou antes.
Levando a fazendeira ao convívio de seus antepassados.
O presente, por vezes, é mais assombroso que o passado.
