Política não é um bom negócio?

09/12/2012 18:46

 

Murilo Schilklaper
 

Política não é um bom negócio. Pelo menos não sob o olhar míope e distante dos órgãos de fiscalização, dos mantenedores da Justiça e dos cidadãos menos críticos. Essa é a informação que nos transmite o frio mundo da burocracia, das coisas oficiais. Já há algum tempo me debruço sobre as declarações de bens que os candidatos apresentam à Justiça Eleitoral. E sempre vejo pairar sobre elas um ar de dúvida, imprecisão ou desejo de escamotear os fatos. Mas o pior é ver as notícias estampadas nos jornais, o povo questionando nas ruas, na internet, e as autoridades fiscalizadoras assistindo a tudo de gabinete, fazendo de conta que nada lhes diz respeito. 

A política não é um bom negócio, é o que dizem as informações protocoladas pelos candidatos. Mas então, porque tanta gente se interessa por ela? Apenas pelo cumprimento do dever cívico? Pelo amor à Democracia, para defender seus pontos de vista ou ideologias partidárias? Nem mesmo o mais inocente eleitor é capaz de acreditar nisso. Mas o fato é que assistimos médicos, advogados, fazendeiros, empresários e toda sorte de gente rica, ou pelo menos bem organizada financeiramente, abandonar sua vida profissional para abraçar essa ingrata carreira - segundo muitos políticos a classificam.

 

O mais intrigante é observar o patrimônio pessoal desta gente bem de vida ir se esvaindo vetorialmente, ao longo da carreira. Por que isso acontece? O que é feito destas riquezas materiais? Será que existe um descuido generalizado? E por que ninguém fiscaliza isso?

 

Vale lembrar ainda que a queda nas riquezas pessoais soa ainda mais dissonante quando lembramos que os mandatos políticos carregam em seu bojo uma série de privilégios: as autoridades possuem carros com gasolina e motorista à sua disposição; telefones celulares; diárias e as vezes até almoços e jantares por conta dos cidadãos que pagam seus impostos.

 

Desatualizados

 

O primeiro ponto ao analisar a declaração dos candidatos é questionar porque os valores dos seus bens estão invariavelmente desatualizados. Há candidatos, conforme o JORNAL DA CIDADE já mostrou em reportagem, que repetem suas declarações por anos a fio. Participam de três eleições seguidas (ou seja, um intervalo de oito anos) e seus apartamentos, fazendas, carros, suprimem todas as regras de mercado e continuam exatamente com o mesmo valor.

Por que?

Dizem que político bobo nasceu esperto, e uma coisa é certa: neste ramo, ninguém da ponto sem nó. Muitos são orientados por seus assessores jurídicos a se desfazerem do seu patrimônio antes de sentarem nas suas cadeiras de mandatários. Os motivos são os mais diversos: em primeiro lugar, no Brasil ser rico pega mal. Num país que é um verdadeiro poço de desigualdades cheio da lama que é a miséria, se apresentar como rico é sinônimo de esperteza (no pior sentido da expressão), de envolvimento em negociatas e da pouca inclinação para o trabalho – num país onde a riqueza muitas vezes, quando não vem de berço brota de forma a causar estranheza.

 

O resultado é esse: melhor se desfazer dos bens, transmiti-los a seus filhos, parentes, laranjas e outros entes cítricos. Mas há ainda uma segunda explicação: com o avanço das instituições democráticas, ficou um pouco mais arriscado cometer desmandos e roubos – mas assim com Al Capone, o Gangster Americano que vacilou no detalhe do imposto de renda, muitos administradores corruptos estão sendo pegos não pelos roubos, mas pelas falhas jurídicas e administrativas.

 

Construindo riqueza

 

Que fique claro aqui: a coluna não possui nenhum tipo de preconceito contra a riqueza. Pelo menos não contra a riqueza honesta, construída sob o suor do trabalho, orientada pela sagacidade e pioneirismo no negócio. Mesmo no caso de herdeiros que recebem um patrimônio e trabalham honestamente para multiplicá-lo, gerando empregos e desenvolvimento para a sociedade.

 

Num país sério as pessoas enriquecem com seus trabalhos, suas empresas. Constroem uma carreira sólida e se lançam na política – que é totalmente diversa da nossa. Nos Estados Unidos, quando um jovem é o destaque intelectual na escola, o elogio é de que ele será presidente – obedecendo à uma lógica que impera num sistema de meritocracia cega, as vezes. Quando milionários entram no jogo, não escondem seus milhões. Pelo contrário, orgulham-se e usam isso até mesmo em suas propagandas políticas, exibindo-se coo bons gestores, empreendedores. É o “self made man” tão valorizado na cultura americana.

 

Mas estamos numa jovem democracia de vinte e poucos anos enquanto a Constituição sumaríssima do nosso vizinho de cima possui mais de duzentos anos. O povo brasileiro precisa de mais acesso à Educação para ter uma maior compreensão das instituições e poder fazer escolhas mais sábias. Ainda assim o povo não é bobo e precisa mostrar isso. Precisa desconfiar dos candidatos que apresentam declarações de bens que não condizem com seu histórico pessoal. Afinal, se alguém já entra mentindo nas eleições, é possível ter uma ideia do que esperar de sua administração. Para votar bem é necessário ter o máximo possível de informações sobre os candidatos. E de posse delas, o eleitor deve ser malandro e perguntar: Se política não é bom negócio, porque esse cara quer entrar nessa? A resposta desta pergunta é também a solução para transferirmos o poder às pessoas mais honradas e comprometidas, o que é apenas o primeiro passo para uma administração ética e comprometida em resolver os problemas da cidade.